Indústria de ração: quais os maiores desafios e oportunidades?
As estimativas populacionais da ONU projetam que, em 2050, seremos 10 bilhões de habitantes no mundo, o que significa um aumento na demanda alimentar de 70%. Isso exige mudanças no sistema de produção agropecuário. A questão é: como fazer com que os animais produzam mais, melhor, em menos tempo e em menor espaço? Considerando que os fatores externos influenciam significativamente na sua produtividade, a indústria de ração tem um papel fundamental nessa jornada.
A composição genética e o bem-estar animal completam a resposta dessa pergunta. Contudo, a nutrição de precisão e de qualidade são o ponto-chave para direcionar a produção de proteína animal e alcançar as metas estabelecidas, visto que a alimentação representa 70% dos custos do negócio.
Dessa forma, o mercado de fabricação de ração exerce grande importância socioeconômica e oferece grandes oportunidades sendo necessário, porém, enfrentar alguns desafios. É sobre isso que se trata o artigo a seguir. Continue conosco e entenda como funciona a indústria de ração!
Como funciona a indústria de ração?
A fábrica de rações tem como objetivo garantir um alimento seguro (segurança alimentar) e nutricionalmente equilibrado. O processo deve ser voltado para atingir um produto de qualidade dentro da meta produtiva e buscar o melhor custo-benefício possível. Contudo, é preciso destacar que os custos com a fabricação representam, geralmente, apenas 2,2 a 4% do total de custos da ração no comedouro (incluindo a depreciação).
Dessa forma, não se devem poupar investimentos nessa área (novas fábricas, adequações, reformas etc.), pois essa pequena cota dos custos influencia mais de 90% dos custos de alimentação, representados pelo valor das matérias-primas. Se a indústria de ração negligenciar esse fato, corre o risco de comprometer o desempenho dos animais e ainda a sustentabilidade, uma vez que os recursos naturais serão desperdiçados.
A qualidade da ração é dividida em duas esferas: sanitária e nutricional/fisiológica. A primeira atesta que a ração deve ser isenta de microrganismos, componentes tóxicos e qualquer outro elemento que prejudique a saúde do animal ou que deixe resíduos indesejáveis na carne. A segunda diz respeito ao atendimento dos níveis nutricionais ideais para cada categoria produtiva do plantel.
Os graus nutricionais são alcançados por meio da dosagem e pesagem corretas dos ingredientes individuais e sua posterior mistura para obter uma homogeneização dos nutrientes. O processo de fabricação de ração envolve, portanto, três etapas: moagem, mistura e peletização.
Moagem
Esse é o processo de redução do tamanho das partículas e o equipamento mais amplamente utilizado é o moinho de martelo. O maquinário, entretanto, é muito mais que somente um moedor, tendo diversos outros dispositivos conjuntos que separam, aspiram e direcionam os ingredientes para a próxima etapa. O moinho de martelo também conta com aparatos de segurança que evitam explosões, já que a poeira da silagem é altamente inflamável.
Para cada espécie animal há uma granulometria adequada que facilita a ingestão e a assimilação da ração pelo trato digestivo. O padrão de tamanho é calculado por meio de softwares a partir dos índices DGM (Diâmetro Geométrico Médio) e DPG (Desvio Padrão Geométrico).
Mistura
Essa etapa do processo da indústria de ração tem um papel crucial para a performance dos animais, pois, caso os ingredientes não estejam todos com o mesmo padrão de granulometria e muito bem misturados, os animais podem escolher o alimento no comedouro, o que é contraprodutivo. Nessa fase, adicionam-se micro e macronutrientes para enriquecer a fórmula.
O tamanho, a densidade, a forma, as características eletrostáticas e higroscópicas (capacidade do elemento absorver umidade do ar) são fatores de grande relevância para atingir a mistura ideal. Isso porque a uniformidade da mistura depende mais das características do microingrediente do que dos atributos da mistura propriamente dita.
Peletização
A razão de peletizar a ração é o ganho econômico, visto que, dessa forma, o alimento é mais durável. Cabe ressaltar que, apesar de durável, o pelete não pode ser duro demais para não comprometer a palatabilidade e a digestibilidade do grão. Levando isso em consideração, as vantagens da peletização sobre a ração farelada são as seguintes:
- redução de microrganismos (tratamento térmico);
- redução da segregação dos ingredientes;
- redução dos resíduos dentro dos silos ou moegas;
- redução da seleção dos ingredientes pelos animais;
- aumento da densidade da ração (o que acarreta menor volume de armazenagem e transporte);
- aumento no consumo de ração;
- aumento no ganho de peso diário;
- melhor conversão alimentar;
- melhora na digestibilidade (devido à utilização dos nutrientes);
- redução do desperdício.
Quais são os maiores desafios?
Existem quatro grandes desafios para a indústria de ração. Veja a seguir.
Elaboração de projeto
Projetos mal executados são a causa para alguns fabricantes de ração não entregarem seu produto como foi proposto por nutricionistas. Isso se deve à falta de estudos aprofundados sobre a fórmula, à insuficiência nas discussões sobre os padrões e seus desvios no processo, à falta de uma equipe com capacidade técnica para conduzir os projetos e ao não envolvimento de diferentes especialistas nas discussões.
Gestão por indicadores
Os indicadores de gestão demonstram quantitativamente a evolução e o desempenho da fábrica em relação às metas traçadas. Portanto, garantir bons índices é fundamental para buscar melhorias e verificar se os resultados são compatíveis com os processos. Além disso, é crucial que os dados levantados sejam repassados para quem opera os processos e não fiquem simplesmente parados na mesa do supervisor.
Os indicadores que devem ser acompanhados de perto são:
- granulometria da ração;
- homogeneidade da ração;
- produtividade da fábrica;
- Eficiência Geral de Equipamento (OEE);
- garantia da qualidade.
Capacitação técnica e de gestão
A qualificação técnica e a gestão das equipes de fábrica é um grande desafio para a indústria de ração, devido à escassez de produção de conhecimento científico sobre os processos de fabricação de ração. Há algumas iniciativas de criação de cursos na área, mas são poucos e não muito aprofundados. O que ocorre, às vezes, é a formação no exterior e a adaptação dos conhecimentos obtidos para a realidade brasileira, por meio de pesquisas e desenvolvimento.
Safra de grãos
A safra de milho e soja (60-70% e 20% da fórmula, respectivamente) influencia intrinsecamente o custo de produção. Além das condições anuais das safras, o mercado de commodities e o câmbio impactam os custos, visto que a indústria de ração trabalha com matérias-primas que também são exportadas.
Quais são as maiores oportunidades?
Mesmo frente a todas essas adversidades, a fabricação de produtos de origem animal no Brasil é uma das melhores do mundo, tanto na pecuária quanto na avicultura, suinocultura e piscicultura. As vantagens competitivas do país são enormes e entre as razões para isso está justamente a produção de matéria-prima.
Embora a exportação de carnes tenha um peso importante na fabricação de ração — e o aumento da demanda pelos russos e chineses é um destaque —, é o consumo interno o responsável pelo crescimento do setor. A indústria projeta um aumento de 2,1% para 2019, o que bate um recorde de 73,7 milhões de toneladas de ração. Por isso, a indústria de ração deve continuar o aperfeiçoamento dos processos e buscar a eficiência em toda a sua cadeia produtiva.
Vale ressaltar que a qualidade da ração tem início na produção, recepção e armazenagem das matérias-primas. Além disso, todo processo industrial capaz de agregar valor a elas (moagem, dosagem, mistura etc.) impacta diretamente o custo de fabricação, mas favorece a relação custo-benefício do processo, aumentando o retorno dos investimentos na área.
Como você pôde perceber, a indústria de ração tem uma enorme responsabilidade social e econômica no país, visto que a nutrição animal de qualidade resulta em produtos de excelência. Os desafios não são pequenos — porém, são absolutamente contornáveis e, diante das oportunidades, deixam de ser impeditivos.
As adversidades fazem parte de todos os sistemas de criação, inclusive do gado leiteiro. Continue aprofundando seu conhecimento e saiba como contornar os maiores desafios na criação de bezerras!
Este conteúdo foi produzido com a colaboração de Karina Ferreira Duarte, Especialista em Nutrição Sênior da Vaccinar.
Gostei muito do seu post, o conteúdo além de ser bem explicado tem me ajudado muito, vou acompanhar mais suas postagens.
olá
gostaria de ver um post sobre as principais dificuldades enfrentadas pela indústria de ração ou na nutrição animal.
Aqui é a Camila parabéns pelo conteúdo do seu site gostei muito deste artigo, tem muita qualidade vou acompanhar o seus artigos.