Como implementar a biosseguridade na suinocultura
Nas últimas décadas, o aumento da população mundial e o consequente crescimento da demanda por alimentos levou a indústria suinícola a níveis extraordinários de precisão, tecnicidade e eficiência produtiva. Porém, a intensificação dos processos eleva os riscos de contaminação do plantel por agentes infecciosos, tornando crucial a adoção de um Programa de Biosseguridade na suinocultura.
Esse programa nada mais é que um conjunto de práticas que tem como objetivo evitar a entrada de patógenos na propriedade, reduzir e controlar a sua propagação, além de eliminar doenças no plantel. Caso as medidas preventivas não sejam corretamente implementadas, o produtor pode amargar severos prejuízos econômicos.
Afinal, qual é a importância e o que é preciso fazer para garantir a biosseguridade na suinocultura? É sobre isso que falaremos por aqui. Continue conosco e entenda!
A importância da biosseguridade na suinocultura
O mercado consumidor exige que a indústria suinícola produza alimentos de alta qualidade, e os países que desejam conquistar ou manter o seu espaço nesses mercados precisam se adequar às normas de regulação sanitária. Tendo em vista que as barreiras não-tarifárias de saúde animal são o principal risco de embargo às exportações, a biosseguridade é parte primordial das Boas Práticas de Produção (BPP).
O Brasil não deixa nada a desejar quando o assunto é produtividade na agropecuária. Levamos algumas décadas para alcançar os patamares que ocupamos nos rankings de exportação e produção de carne suína —, e foi justamente a preocupação em estabelecer normas de biosseguridade, mantendo afastadas doenças como a Peste Suína Clássica, que permitiu a nossa entrada nos mercados internacionais.
Entretanto, assegurar o status sanitário em uma granja suinícola requer investimentos e rigorosidade nos processos, ainda mais em sistemas produtivos intensivos, cujo elevado número de animais e a alta movimentação humana favorecem a propagação de vírus, bactérias e demais patógenos. Por outro lado, pequenos produtores devem ficar atentos também, pois uma propriedade doente pode aniquilar o negócio.
Independentemente do sistema produtivo empreendido, o impacto econômico causado por surtos de doenças nos plantéis deve ser um dos grandes motivadores para implementar um programa de biosseguridade na suinocultura. Entre as consequências da falta dele podemos destacar:
- redução da produtividade;
- aumento da taxa de mortalidade, além dos custo de produção (gastos com produtos biológicos e medicamentos) e de mão de obra (alterações no manejo);
- diminuição do retorno financeiro ou da remuneração, devido ao comprometimento da qualidade do produto;
- aumento nos gastos com serviços veterinários;
- elevação do risco de contaminações nas pessoas envolvidas na produção (zoonoses) e nas que consomem os produtos (infecção alimentar).
Dito isso, veja o nosso próximo tópico e saiba quais ações devem ser adotadas para garantir o status sanitário na suinocultura.
12 formas de implementar a biosseguridade na criação de suínos
O programa de biosseguridade é um conjunto de diversas ações, que devem ter especificações e procedimentos minuciosos. Uma vez que mais de 95% dos casos de doenças em plantéis ou sítios de produção têm relação direta com a qualidade da água e a entrada de animais (suínos, insetos, roedores, pássaros etc.), veículos, sêmen, alimentos e visitantes, é preciso estabelecer medidas mitigatórias para o controle.
Confira, a seguir, quais são as medidas básicas!
1. Presença de um médico-veterinário
É primordial que o programa de biosseguridade seja elaborado e acompanhado por um veterinário especialista. O profissional esclarecerá as características dos patógenos, bem como identificará as doenças existentes no plantel.
2. Adequação da localização do sítio de produção
A localização da propriedade é de suma importância, pois diversos fatores ambientais e as condições climáticas da região têm influência na disseminação dos agentes patogênicos. Além disso, a granja suinícola deve estar a, no mínimo, 5 km de distância de outra propriedade produtora e ter todo o seu perímetro isolado.
3. Controle de tráfego
Somente pessoas autorizadas podem entrar na propriedade, e o tráfego, tanto de funcionários quanto de veículos, deve ser controlado. Um rodolúvio deve ser instalado na entrada da granja suinícola, bem como pedilúvios em todos os galpões.
Todas as pessoas devem tomar banho e usar roupas apropriadas, ou fazer a higienização correta de mãos e braços. Os veículos precisam ser cuidadosamente desinfetados, principalmente os de descarregamento de animais e rações, em uma área determinada para isso.
4. Atenção à introdução de animais
A aquisição de animais para reposição é o modo mais comum de contaminação dos plantéis. Por isso, tanto os machos reprodutores quanto os demais suínos devem ser sempre adquiridos de uma Granja de Reprodutores Suínos Certificada (GRSC). Ao chegarem na propriedade, os novos animais devem ser mantidos em quarentena pelo tempo correspondente à incubação da doença-objeto ou pelo intervalo de realização de testes.
5. Procedimentos de limpeza e desinfecção
O ambiente tem um papel importantíssimo na disseminação das doenças infecciosas. Em condições adequadas, existe um equilíbrio entre os patógenos presentes no ambiente e os mecanismos de defesa dos suínos.
Por isso, os procedimentos de limpeza e desinfecção devem ser rigorosamente executados na entrada de um novo lote. Deve-se remover todos os animais e seus dejetos, desmontar os equipamentos para a penetração adequada de desinfetantes, lavar as instalações, remover toda a matéria orgânica que propicia a permanência dos patógenos etc.
6. Fornecimento de água e alimentos idôneos
A água é um dos maiores meios de propagação de agentes patogênicos, sendo que, se estiver contaminada, pode afetar todo o plantel com rapidez. Além disso, a qualidade dela interfere diretamente no desempenho dos suínos, devendo, portanto, ser limpa e fresca. Essa medida faz parte, inclusive, das diretrizes do bem-estar animal na suinocultura.
As caixas de armazenamento devem ser tampadas e o sistema de distribuição de água, sanitizado também. Da mesma forma, a ração também pode ser uma relevante fonte de contaminação e precisa ser adquirida de fornecedores idôneos e certificados.
7. Atenção à prática de inseminação artificial
A inseminação artificial em suínos é uma prática altamente produtiva, que tem sido amplamente utilizada nos sistemas de criação. Os riscos de propagação de doenças por meio da distribuição de sêmen entre as granjas suinícolas são bastante grandes, por isso, qualquer centro de inseminação artificial, seja único da propriedade, seja público ou privado, deve implementar programas severos de biosseguridade.
8. Adequação no destino de resíduos
Cadáveres, resíduos e dejetos constituem importantes fontes de contaminação também, tanto por atraírem vetores de doenças quanto por aumentarem a pressão de infecção dentro dos galpões. A incineração é uma prática comum, mas tem-se recomendado fazer a compostagem.
Quando realizada da maneira correta, a compostagem não polui o meio ambiente. Além disso, permite a reciclagem de nutrientes, uma vez que o produto é um rico adubo orgânico que pode ser utilizado no solo.
9. Limpeza de materiais
Todos os materiais que serão introduzidos na área limpa da granja suinícola devem passar por um fumigador para desinfecção. Caso haja equipamentos que não caibam no fumigador, estes devem ser lavados e desinfetados com produtos específicos.
10. Controle de vetores
Como mencionamos, a entrada de animais é uma das principais formas de contaminação dos plantéis na suinocultura. Portanto, o programa de biosseguridade deve estabelecer um plano eficaz de controle de vetores, tais como roedores, pássaros, insetos, mamíferos domésticos e silvestres e animais de estimação.
11. Plano de contingência
Todo programa de biosseguridade deve ter um plano de contingência, que é um conjunto de decisões e procedimentos emergenciais a serem executados, caso haja a suspeita ou a confirmação de um surto de doença ou de inadequação em algum processo do próprio programa. O objetivo desse plano é chegar a um rápido diagnóstico, a uma ágil contenção e a uma eficaz solução para o problema.
O plano deve ser detalhado e ter os nomes dos responsáveis por executar cada etapa mitigatória. Ademais, deve ser revisado e atualizado frequentemente.
12. Monitoramento do programa
Periodicamente, se faz necessário que todos os procedimentos sejam revistos e adaptados a novos riscos e agentes, que tendem a mudar com o decorrer do tempo nas unidades de produção.
A forma mais eficaz desse monitoramento se dá por coleta, análise e interpretação de dados, bem como exames periódicos no plantel, sempre com foco no status sanitário da propriedade.
Como você viu, um programa de biosseguridade na suinocultura é imprescindível para a qualidade do produto e, também, para a eficiência econômica da atividade. Você pode acessar detalhes e especificações sobre cada medida implementada no compilado da Embrapa Suínos e Aves de 2017.
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