Futuro do leite: entenda os principais desafios do setor leiteiro para 2019

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Impulsionado pela melhora da economia e pela safra recorde de grãos, o setor leiteiro promete voltar a crescer este ano. Após um período de estagnação, em consequência da crise enfrentada em 2015, a produção de leite no Brasil deve aumentar nos próximos anos, segundo informações da análise da Embrapa Gado de Leite.

No entanto, muitas perguntas ainda rondam a vida dos produtores de leite. A alta do mercado leiteiro será sustentável? Como será a produção de leite nos próximos anos? Como está o panorama atual de consumo de lácteos no Brasil?

Para ajudar você a entender melhor qual o futuro do leite no Brasil, preparamos esta análise com perspectivas da atividade para 2019. Continue a leitura!

Panorama atual do setor leiteiro no Brasil

O histórico do setor leiteiro no Brasil é recheado de altos e baixos. Para entender o cenário atual da atividade é preciso retomar 2015, quando houve a primeira queda no mercado. O resultado daquele ano impactou toda a produção dos anos seguintes — e ainda hoje muitos produtores tentam se recuperar da crise.

Segundo dados do Anuário Leite de 2018, em 2015 a produção de leite no Brasil teve uma redução de 2,8%, valor que se intensificou no período seguinte para 3,7%. Isso aconteceu por causa da crise enfrentada pelo país, que diminuiu o PIB e, consequentemente, a renda familiar.

Somado a isso, o custo de produção, medido pelo ICPLeite/Embrapa, aumentou 9,8% em 2015 e 15,3% em 2016. Com o preço internacional baixo e o elevado gasto para fornecer leite no Brasil, as importações cresceram de 725 milhões de litros em 2014 para 1,092 bilhão em 2015 e 1,880 bilhão em 2016, sendo essa última remessa superior a 8% da produção brasileira de leite sob inspeção naquele ano.

Apesar disso, após dois anos de crise, em 2017 o Brasil voltou a registrar crescimento na produção de leite. A princípio, houve uma recuperação dos preços pagos por produtores. Naquele mesmo período, a safra de grãos apresentou recordes e impulsionou o setor leiteiro, o que resultou na redução dos custos de produção.

Ao mesmo tempo, ocorreu uma valorização dos preços do leite no mercado internacional. Com isso, produtos importados perderam lugar para fabricação nacional. Esse cenário deu uma nova chance para o Brasil, e a produção interna cresceu 40% em 2017, enquanto as importações reduziram 32,5%.

Em 2018, houve novamente uma valorização do preço do leite pago ao produtor em 4,5% em relação a 2017. Assim, a perspectiva para 2019 é que o cenário seja ainda melhor do que ano anterior. A principal aposta está na recuperação da demanda interna aliada a uma oferta ajustada.

Principais desafios do setor para 2019

Como vimos, o setor leiteiro vem enfrentando desafios há muitos anos. Os elevados custos e impostos cobrados inviabilizam a produção em grande escala e impossibilitam a competitividade com o leite importado da Argentina e do Uruguai.

A estrutura fundiária do Brasil ainda é pequena quando comparada a outras nações. Para se ter uma ideia, produzimos, em média, 50 litros de leite por produtor diariamente. Enquanto isso, países da União Europeia apresentam números nove vezes maiores, alcançando 400 litros diários por produtor — o que impossibilita a disputa equilibrada no mercado internacional.

Outro fator é que a falta de especialização tanto do nosso rebanho quanto dos profissionais dificulta uma grande produção. Soma-se a isso a ausência de cuidados sanitários, controle econômico precário e alimentação do plantel, o que resulta em uma produção anual baixa.

A eficiência das nossas áreas leiteiras ainda é reduzida, com uma produção de 900 litros por hectare ao ano. Entretanto, caso houvesse um incentivo governamental e adequação do sistema de produção poderíamos alcançar 18.000 litros ou até mais. Isso representaria um aumento de 2.000%, o suficiente para disputarmos com o mercado externo.

No entanto, sem esse incentivo do governo para promover a produção interna e ações de valorização da mercadoria nacional, o futuro do leite para 2019 ainda apresenta muitas dúvidas. Atualmente, o produtor brasileiro recebe o valor bruto médio de R$1,62 por litro comercializado, de acordo com o índice do Cepea, o que impede a atualização das fazendas e afeta a qualidade do leite.

Perspectivas para o setor leiteiro nos próximos anos

Apesar de todos os desafios, é esperado que a produção de lácteos cresça para 45 bilhões de litros nos próximos anos. Os dados são do Outlook FIESP 2023, documento elaborado pelo Federação das Indústria do Estado de São Paulo (FIESP) com projeções para o agronegócio brasileiro.

O consumo interno vai seguir bastante dinâmico, como nos últimos anos, baseado no aumento da renda familiar. A avaliação esperada é de crescimento, ainda que tímido, de 2,5% ao ano até 2023. No entanto, a formalização do setor e o lançamento de novos produtos pode incentivar positivamente o seu desempenho.

O mesmo não acontece com o mercado mundial. Uma visão conservadora do cenário básico de lácteos estima que o Brasil vai manter sua posição atual. Em outras palavras, não deve aumentar suas exportações e vai continuar importando produtos como queijos e leite em pó — mas não em quantidades crescentes.

Uma grande oportunidade de aumento da produtividade brasileira é o crescimento do consumo per capita na China, que importa em média 600 mil toneladas de leite em pó e manteiga. Além disso, vale lembrar também que países como Austrália e Nova Zelândia têm limitações de expansão de pastagens. Nesse cenário, o Brasil tem a chance de conquistar esse mercado, devido as suas boas condições de ampliação de gado leiteiro.

O que dá para notar é que um crescimento superior ao observado nos últimos dez anos só é possível caso o Brasil passe a fornecer volumes maiores para o mercado internacional. Assim, haveria um estímulo maior à produtividade, por meio do uso de tecnologias. Da mesma forma, teria um aumento do consumo interno em consequência da melhor qualidade do leite, produzido com custo competitivo.

Com base no que foi apresentado, é possível perceber que apesar dos desafios enfrentados nos últimos tempos, após a crise de 2015, o setor leiteiro vem se recuperando. Com boas oportunidades no mercado internacional e maiores investimentos na produção nacional, é esperado que o futuro do leite no Brasil seja prósperos nos próximos anos.

Gostou das informações? Então continue se informando sobre o setor leiteiro com o nosso artigo “Produção de leite orgânico: veja como funciona o processo”.

Nutrição de gado de leite
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