Vacas de descarte: especialista comenta sobre o manejo correto
O manejo adequado e as corretas práticas de alimentação de bovinos são alguns dos fatores mais importantes para alcançar o sucesso no setor. Nesse contexto, as vacas de descarte também exigem atenção especial, porque podem exercer um impacto significativo nos resultados obtidos com a produção de leite.
Como esse é um tema muito relevante para quem atua na área, preparamos um conteúdo especial sobre o assunto. Ao longo do texto, abordaremos o processo de diagnóstico, a seleção dos animais e o que deve ser feito com eles. Aproveite as informações!
Por que observar as vacas de descarte é importante?
De modo geral, é possível afirmar que existe uma relação entre as vacas de descarte e a produtividade do negócio. Por isso, é fundamental acompanhar a trajetória dos animais e estabelecer um planejamento em torno da projeção de crescimento do rebanho e da propriedade, além de aplicar as melhores estratégias nutricionais e de manejo.
Ainda nesse sentido, animais que ficam doentes com frequência são impossibilitados de expressar sua capacidade produtiva máxima — algo que pode abalar o retorno econômico. De acordo com uma pesquisadora da Embrapa Gado de Corte, Alessandra Nicácio, recomenda-se repor 30% dos animais anualmente. Ou seja, acompanhar os animais da propriedade se mostra como uma atividade indispensável dentro da pecuária.
Como selecionar as vacas de descarte?
Na maioria das vezes, o descarte ocorre após o diagnóstico de gestação. Esse procedimento aponta as vacas que apresentaram falhas reprodutivas, ou seja, que não emprenharam. Avaliar o desempenho nos anos anteriores é necessário, visto que falhas podem ser isoladas e nem sempre indicam a baixa produtividade do animal. Afinal, uma vaca que falha apenas uma vez nem sempre é improdutiva.
Portanto, a escolha dos animais depende de vários critérios, a fim de evitar o descarte de vacas que poderiam contribuir no futuro. Fatores como o nível de produção, as perdas ocasionadas pela mastite e outras doenças, os índices reprodutivos e a prospecção planejada de rebanho devem ser analisados com o máximo cuidado. Quando há uma alteração no rebanho, cabe a revisão dessas variáveis.
Assim que o diagnóstico de gestação é feito e todas as questões são ponderadas, é indicado agir rapidamente, evitando que o animal fique mais tempo na propriedade, caso seja destinado ao descarte. Também há a alternativa de fazer o confinamento para que a vaca ganhe peso antes de ser vendida.
Vale lembrar que os índices zootécnicos da propriedade não podem ser deixados de lado ao tomar a decisão. Um rebanho produtivo, por exemplo, requer bastante rigor na seleção para o descarte. Isso porque a decisão pode ser voluntária, por uma questão de manejo (produção de leite, temperamento, tamanho de úbere etc.) ou involuntária, quando a vaca é descartada por apresentar algum problema de saúde.
Quais características observar nas vacas de descarte?
Considerando a despesa envolvida no desenvolvimento de cada novilha de reposição, elas não podem ser excluídas em virtude de falhas reprodutivas na primeira lactação — vacas que produzem pouco em relação ao rebanho são as primeiras destinadas à lista de possíveis descartes. Além disso, é preciso observar a idade, o estado reprodutivo, o valor genético e a sua influência no custo da produção de corte de bovinos dentro da propriedade.
Pontos como a mastite crônica, taxa de prenhez reduzida e alto período de serviço são as principais características das vacas de descartes. Problemas de cascos e de conformação de pernas e pés devem ser considerados. Também é imprescindível notar a qual categoria os animais pertencem, tendo em vista que as vacas podem ser classificadas como novilhas, primíparas ou multíparas.
A novilha torna-se primípara depois de passar por seu primeiro parto. Como está em fase de crescimento e não alcançou o peso adulto, ela apresenta carências nutricionais específicas no período pós-parto. Por causa disso, as primíparas tendem a apresentar uma taxa de prenhez mais baixa, o que pode levar à conclusão equivocada de que ela precisa ser descartada logo em sua primeira falha.
Assim que uma vaca passa pelo segundo parto, ela é tratada como multípara. Cabe ressaltar que o período ideal entre dois partos é de 12 meses. Quando uma multípara saudável e com peso ideal apresenta duas falhas seguidas, ela pode ser descartada da propriedade.
Sendo assim, indica-se contar com 30% de novilhas em um rebanho de matrizes, de modo que o impacto não seja grande quando elas se tornarem primíparas. Trabalhar com uma quantidade exagerada de novilhas representa um risco significativo para o índice geral de prenhez do rebanho — só é válido quando o objetivo é aumentar o rebanho.
Como evitar a baixa taxa de prenhez?
Para serem submetidas ao parto, as fêmeas bovinas precisam atingir a puberdade para ter o trato reprodutivo totalmente desenvolvido. A plenitude dessa fase está ligada ao peso das novilhas e à condição corporal. Por isso, o manejo nutricional, a presença do macho e a genética são pontos a serem observados.
Inseminar ou acasalar novilhas com baixo peso pode comprometer as taxas de concepção. Sem a maturidade adequada, torna-se muito mais desafiador obter bons números nesse sentido. Lembre-se: as taxas de concepção em novilhas inseminadas a partir do terceiro cio são maiores.
O que fazer com as vacas de descarte?
Vacas de descarte podem não estar aptas a permanecer no rebanho em que se encontram, mas podem se encaixar em produções com índices mais modestos. Sendo assim, esses animais podem ser vendidos como reposição para outros rebanhos ou para o abate.
É necessário ter em mente que o descarte não é uma atividade lucrativa — pelo contrário, ele sempre denota a perda de renda. Portanto, a avaliação que precede o descarte carece de muita cautela, gestão eficiente e práticas de manejo adequadas. Alternativas nutricionais e outras soluções ligadas ao bem-estar animal também são fundamentais para aumentar a longevidade do rebanho e ter um baixo número de vacas de descarte.
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Este conteúdo foi elaborado com a colaboração deJosiane Pereira dos Santos, Especialista em Nutrição de Ruminantes.