Doenças respiratórias na produção de suínos durante o inverno: desafios, impactos e estratégias de prevenção

Por: Huillian Zecchin
As condições ambientais do inverno em diversas regiões do país, caracterizadas por temperaturas mais baixas, aumento da umidade relativa do ar e ventilação frequentemente insuficiente em algumas instalações de produção, favorecem o surgimento e a intensificação de enfermidades respiratórias em suínos. Esses fatores, somados ao estresse térmico e a práticas inadequadas de manejo, aumentam a vulnerabilidade dos animais a agentes patogênicos, comprometendo sua saúde e desempenho produtivo. As consequências desse quadro incluem prejuízos econômicos como o aumento da taxa de mortalidade, redução no desempenho zootécnico e elevação nas taxas de condenação em frigoríficos. Durante o inverno, a preocupação de muitos produtores em proteger os suínos do frio frequentemente resulta no fechamento excessivo das instalações, o que reduz a ventilação adequada e eleva a concentração de gases, como amônia, além de aumentar os níveis de poeira e umidade. Esse ambiente desfavorável compromete a qualidade do ar e favorece a proliferação de vírus e bactérias respiratórias. Além disso, as variações térmicas acentuadas também prejudicam a resposta imunológica dos animais, tornando-os mais suscetíveis às infecções. Entre as principais enfermidades respiratórias observadas neste período, destaca-se a influenza suína, que se manifesta por sintomas como tosse, febre e secreção nasal, levando à redução do desempenho dos animais e ao enfraquecimento do sistema imunológico. A infecção por influenza frequentemente abre caminho para coinfecções com outros agentes patogênicos, como Mycoplasma hyopneumoniae, Pasteurella multocida e Actinobacillus pleuropneumoniae, cujas incidências se agravam em ambientes frios e mal ventilados. Esses patógenos se beneficiam do comprometimento da resposta imunológica, agravando os quadros clínicos e ampliando o desafio sanitário no rebanho.
Fatores que contribuem para o agravamento das doenças respiratórias
- Temperaturas extremas e variações térmicas abruptas: Exposição ao frio intenso e mudanças rápidas de temperatura induzem estresse térmico nos suínos, comprometendo a imunocompetência dos animais e tornando-os mais susceptíveis a infecções respiratórias.
- Alta umidade: Níveis elevados de umidade favorecem a proliferação de micro-organismos patogênicos, além de dificultar a renovação do ar, aumentando a concentração de agentes infecciosos no ambiente e agravando os riscos respiratórios.
- Ventilação inadequada: A ventilação insuficiente e a utilização de aquecedores associado ao fechamento inadequado das cortinas compromete a renovação do ar, resultando no acúmulo de gases e partículas suspensas no ambiente interno das instalações, o que agrava as condições respiratórias dos suínos.
- Estresse ambiental e nutricional: Dietas desbalanceadas, movimentações excessivas dos animais e superlotação também desempenham papel relevante na redução da resistência imunológica dos suínos, tornando-os mais vulneráveis a doenças respiratórias.
Estratégias de prevenção e controle
- Ventilação eficiente: O ajuste adequado da ventilação é essencial para garantir a renovação do ar sem a criação de correntes frias que possam causar desconforto térmico nos animais e principalmente, sem o acúmulo de gases dentro das instalações. O manejo correto das cortinas e a implementação de sensores ambientais ajudam a otimizar o conforto térmico e reduzir a carga de patógenos no ambiente, mantendo condições ideais para a saúde respiratória dos animais.
- Ambiente limpo: A remoção contínua das sujidades contribui para a diminuição da produção de gases dentro da instalação.
- Vacinação estratégica: A imunização contra patógenos respiratórios circulantes no plantel é uma ferramenta indispensável para a manutenção da saúde coletiva dos animais e para o controle eficaz das doenças respiratórias, contribuindo para a redução dos surtos infecciosos.
É fundamental destacar que a vacinação contra a influenza é crucial não apenas para os suínos, mas também para produtores, técnicos e trabalhadores da suinocultura. A imunização desses profissionais visa prevenir a transmissão cruzada do vírus entre humanos e animais, contribuindo para o controle de surtos da enfermidade.
- Nebulização com atomizadores/termonebulizadores: A aplicação de desinfetantes e/ou óleos essenciais por meio de atomizadores ou termonebulizadores permite a atuação direta nas vias respiratórias dos suínos. A termonebulização tem se mostrado particularmente mais eficaz na inativação de vírus como o da influenza, além de melhorar o controle de infecções bacterianas respiratórias.
- Monitoramento sanitário contínuo: A vigilância constante realizada por profissionais especializados permite a detecção precoce de doenças respiratórias, possibilitando uma resposta rápida e eficaz, evitando a disseminação de surtos e minimizando o impacto sanitário.
- Manejo nutricional: Dietas balanceadas, ricas em nutrientes de alta biodisponibilidade, associadas ao uso de aditivos funcionais, como probióticos e prebióticos, desempenham papel crucial no fortalecimento do sistema imunológico e na melhoria da resistência dos suínos às infecções respiratórias.
Considerações
As doenças respiratórias são um dos maiores desafios sanitários da suinocultura, especialmente durante o inverno, impactando diretamente a produtividade e o bem-estar dos animais. A implementação de estratégias preventivas integradas, com ênfase no manejo ambiental, controle da ventilação, imunização e manejo nutricional, é fundamental para minimizar os riscos sanitários e as perdas econômicas associadas. O investimento contínuo em biosseguridade, aliado ao monitoramento constante, é imprescindível para garantir a sustentabilidade e a eficiência dos sistemas de produção.
Referências:
BARCELOS, D.; GUEDES, R. Doenças de suínos: 3ª edição. São Paulo: Editora Roca, 2020.
MIRANDA, L. G. de; SILVA, E. B. da. Afecções respiratórias na espécie suína decorrentes do sistema de criação intensivo: Revisão. Pubvet,, 2023.