Alimentação de bovinos: saiba quais são as boas práticas
A eficiência brasileira na produção de bovinos é tão notável que o país se mantém, há anos, como o maior exportador e o segundo maior produtor de carne bovina do mundo. O grau de excelência dos nossos produtos é resultado da boa execução do manejo animal somado ao controle sanitário e à nutrição de qualidade. Entre esses fatores, a alimentação dos bovinos exerce papel crucial para que o desempenho do rebanho seja expresso à altura do seu potencial genético.
Com o desenvolvimento de linhagens adaptadas aos sistemas de criação modernos e a evolução das raças, as exigências nutricionais dos animais aumentaram, visto que eles precisam de suplementação nutricional para produzirem carne e leite de acordo com as demandas do mercado. A complementação é necessária, pois as pastagens são deficientes em alguns elementos, dependendo da região e da época do ano.
Mas, por que a nutrição é tão importante para a pecuária? Quais são as práticas de alimentação de bovinos que devem ser implementadas para atingir as metas de produtividade do negócio? Continue a leitura do artigo e entenda!
Quais são as boas práticas de alimentação de bovinos?
As melhores práticas de alimentação de bovinos começam com um bom planejamento. É preciso estabelecer as metas do negócio e quais características se deseja encontrar no produto final (teor de gordura no leite e maciez da carne, por exemplo). Feito isso, é preciso fazer a seleção criteriosa dos alimentos, avaliando os atributos e a qualidade da matéria-prima, além de garantir sua correta armazenagem.
Os insumos passam, então, pelo processamento, que precisa ser adequado à categoria e à produção do animal. O alimento deve ser fornecido respeitando a área de comedouro, para que todos os animais tenham acesso a ele, bem como à água de qualidade. Por fim, é feita a avaliação pós-alimentação, para verificar se a produção condiz com o esperado.
Quais são as particularidades e os desafios na alimentação de bovinos?
A sazonalidade é o principal motivo da baixa produtividade do gado no Brasil, pois provoca a variação quantitativa e qualitativa das pastagens, acarretando o ganho de peso na estação chuvosa e a perda de peso durante a estiagem. A melhor maneira de contornar esse problema e manter os animais em ganho constante é elaborando estratégias nutricionais que incluem a suplementação a pasto.
Os desafios que o pecuarista enfrenta são facilmente superados com o bom planejamento. É preciso conhecer as características do clima e do solo da região (manejo das pastagens), bem como saber das particularidades do rebanho, visto que cada raça tem exigências nutricionais diferentes.
As diferenças na alimentação dos bovinos também têm relação com o modelo de criação (sistema extensivo versus confinamento), com o estado de saúde do animal e com a categoria em que ele se encontra.
Quais nutrientes não podem faltar na alimentação dos bovinos?
Manter a dieta rica em vitaminas, minerais, gorduras e carboidratos é imperativo para a saúde dos animais, bem como combinar as quantidades necessárias de cada elemento é fundamental para obter o ganho de peso satisfatório dos bovinos e a viabilidade econômica da atividade.
Para que a nutrição para o gado seja efetiva, mais do que investir nos insumos, é preciso conhecer as categorias dos nutrientes:
- Proteínas: além de conterem átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio, também possuem nitrogênio. Nos bovinos, a síntese de proteínas ocorre graças aos microrganismos das câmaras digestivas, especialmente o rúmen e o retículo. As proteínas sintetizadas por essa microbiota são aproveitadas como elementos estruturais aos órgãos internos (músculos, tecido conjuntivo e cartilagem) e externos (pele e pelos).
- Vitaminas: desempenham funções específicas no metabolismo dos bovinos, atuando como catalisadoras nos processos celulares. Apesar de serem requeridas em concentrações discretas, algumas devem ser fornecidas via dieta. As principais vitaminas essenciais são:
– Vitamina A: protege a pele e mucosas e é importante para a manutenção dos sistemas ocular, nervoso e imunológico, além de prevenir abortos, retenções de placenta e outros distúrbios da função reprodutiva.
– Vitamina D: sintetizada após exposição ao sol, ajuda na absorção do cálcio pelo intestino.
– Vitamina E: atua como antioxidante, estimula a síntese de hormônios, aumenta a absorção de vitamina A, apoia a resposta imune e previne processos inflamatórios e degenerativos.
– Vitamina K: atua na síntese de protrombina, proteína plasmática que estimula a coagulação sanguínea.
– Vitamina C: participa da manutenção da integridade da pele e do tecido conjuntivo, além de ajudar na cicatrização, fortalecer o sistema imune, auxiliar na absorção do ferro e prevenir danos celulares causados por radicais livres.
– Vitamina B1 (tiamina): atua como coenzima em vários processos enzimáticos, sendo importante para a conversão dos carboidratos em energia, além de atuar na regulação do apetite, no tônus muscular, no crescimento e na eficiência reprodutiva.
-Vitamina B6 (piridoxina): age como coenzima na transformação de aminoácidos, sendo que sua deficiência pode levar a alterações tegumentares, anemia e danos nervosos.
- Minerais: os bovinos precisam dos minerais para manterem as funções metabólicas em equilíbrio. Os requerimentos por minerais variam conforme a fase de vida do animal, como crescimento, produção ou manutenção.Os minerais são divididos em macroelementos e microelementos. Entre os macrominerais estão o cálcio, fósforo, sódio, potássio, magnésio e enxofre, que influenciam diretamente no crescimento ósseo, no equilíbrio ácido-base e na função muscular. A falta desses minerais pode causar problemas como raquitismo, incoordenação muscular e apetite depravado. Os microminerais incluem ferro, iodo, cobre, manganês, zinco, cobalto, selênio e molibdênio, os quais desempenham papéis importantes na síntese de hemoglobina, na produção de hormônios e na reprodução. A deficiência desses elementos pode levar a anemia, às disfunções cardíacas e aos problemas de crescimento.
- Lipídios: ou gorduras, são substâncias insolúveis em água que podem ser de origem animal ou vegetal. Esses compostos incluem óleos líquidos e gorduras sólidas, que fornecem o dobro de energia em comparação com carboidratos. Embora sejam mais complexos e difíceis de digerir que os açúcares e carboidratos, são mais fáceis de digerir que a celulose. As funções dos lipídios incluem:
– Fornecer calorias densas por grama.
– Transportar vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K);
– Conferir palatabilidade aos alimentos;
– Fornecer ácidos graxos essenciais.
- Carboidratos: incluem, principalmente, açúcar, amido e celulose. Sintetizados por vegetais clorofilados por meio da fotossíntese, contêm carbono, hidrogênio e oxigênio e armazenam energia solar ao combinar gás carbônico e água. Os alimentos ricos em amido e açúcar são chamados de energéticos, porque fornecem energia de pronto uso para os bovinos. Já a celulose, de digestão mais complexa, requer mais tempo e energia para ser processada, mas os bovinos aproveitam esses nutrientes eficazmente graças à digestão microbiana no rúmen. A energia obtida é utilizada pelo organismo para a realização das funções vitais, como movimentação, funcionamento de órgãos e produção de calor.
Como deve ser a alimentação de bovinos?
Os investimentos na atividade pecuária são altos e os custos com nutrição giram entre 40% e 60% do total aplicado. Isso porque, para que o potencial genético dos animais seja aproveitado, eles precisam receber todas as proteínas, vitaminas e minerais necessários para se desenvolverem com vigor e produzirem de acordo com as metas estabelecidas. Dessa forma, o produtor atende aos requisitos do mercado (segurança e qualidade) e garante a lucratividade.
Mesmo quando bem manejadas, as pastagens brasileiras não são suficientes para suprirem a demanda nutricional dos bovinos, por serem carentes em determinados elementos. As características da forrageira variam conforme a espécie, a região do país e a época do ano — durante as chuvas, o pasto pode ter bom aporte de proteína e energia, por exemplo, mas ser deficitário em minerais.
Por isso, a suplementação é extremamente necessária, independentemente do sistema de criação (a pasto ou confinamento) e do produto final. Entretanto, o primeiro passo para a boa alimentação de bovinos é definir os objetivos da produção e a que se destina o produto (na pecuária de corte, considera-se rendimento de carcaça, cobertura de gordura, qualidade de carne, entre outras; na pecuária leiteira, produção de leite, composição etc.).
A dieta dos animais deve ser elaborada a partir disso e levando em consideração, também, a idade, o sexo, o estágio produtivo e a condição de saúde em que eles se encontram. Com todos esses dados em mãos, lançam-se as estratégias nutricionais.
Cabe ressaltar que não existe receita fixa para a dieta. Existem alguns ingredientes de qualidade elevada, como milho, sorgo e farelo de soja, mas as quantidades de cada elemento e a fórmula final são estipuladas a partir das necessidades de cada rebanho.
Porém, é fundamental que os insumos tenham boa procedência, evitando produtos com contaminações por micotoxinas e metais pesados e assegurando a correta composição nutricional.
Uma alimentação de qualidade garante a saúde do trato digestivo do bovino, de maneira geral.Com isso, a absorção da dieta é melhor e, consequentemente, a produtividade será elevada, bem como a economia do produtor — que terá a certeza que seu investimento será bem aproveitado e trará retorno.
Quais as exigências nutricionais em cada fase?
As exigências nutricionais variam conforme a fase de vida e o propósito de criação, seja para corte ou leite. Na cria, é fundamental fornecer nutrientes que promovam o desenvolvimento saudável dos órgãos dos bezerros. Já na recria, o foco deve ser a taxa de crescimento ideal para a eficiência produtiva futura.
No caso do gado de corte, a nutrição deve priorizar o ganho de peso e a qualidade da carne. Para o gado leiteiro, é necessário fornecer dieta balanceada para otimizar a produção de leite, enquanto assegura a saúde das vacas.
Essas exigências podem ser desafiadoras devido às mudanças nas necessidades nutricionais ao longo das fases e às variações na disponibilidade dos alimentos. A abordagem estratégica para superar esses desafios inclui o monitoramento regular da condição corporal do rebanho e o ajuste da dieta conforme as necessidades nutricionais específicas das fases.
Quais são as melhores práticas de alimentação de bovinos?
Visto isso, podemos destacar as melhores práticas nutricionais para aplicarmos no sistema produtivo:
Defina o objetivo
Sem planejamento não se sai do lugar. Tenha as metas de produção bem estabelecidas para, então, buscar as melhores estratégias nutricionais e garantir a alta produtividade do rebanho.
Estruture o manejo das pastagens
O pasto é o principal alimento dos bovinos e manejá-lo adequadamente significa produzir grande quantidade e extrair o máximo potencial nutritivo da forrageira, o qual está diretamente relacionado à fertilidade do solo.
Garanta bem-estar aos animais
É preciso assegurar o bem-estar completo dos bovinos, uma vez que sua produtividade decresce em condições de estresse térmico ou qualquer outro desconforto no manejo. O animal estressado ou com a saúde debilitada não se alimenta direito e não expressa o potencial produtivo.
Invista em suplementação
Dado que as pastagens deixam a desejar em nutrientes, invista na complementação alimentar. A formulação deve ser balanceada de acordo com os requerimentos nutricionais do rebanho e deve contar com fontes alimentares de qualidade. Ao fornecer a mistura de alimentos, é importante que ela esteja bem homogênea, para evitar o comportamento seletivo e a escolha dos grãos pelo gado.
Forneça água de qualidade
A água deve ser cristalina e o bebedouro deve ser constantemente higienizado. Caso a água não seja de boa qualidade nutricional e microbiológica, o gado diminui o consumo e tem a digestibilidade dos alimentos prejudicada.
Mantenha as condições ideias do comedouro
O cocho deve receber manutenção regular e deve ser dimensionado para atender todo o lote, de acordo com a categoria dos animais e do tipo de suplemento fornecido. Um comedouro pequeno provoca competitividade, distribuição desigual dos alimentos e desempenho irregular do lote.
Conheça os fornecedores
É fundamental conhecer os fornecedores dos insumos utilizados na composição da dieta, visto que a qualidade dos grãos está ligada às condições de plantio, colheita e armazenamento. Apenas minerais de excelente origem são livres de contaminações e não prejudicam os animais. Verifique a procedência do fornecedor e siga as recomendações do nutricionista.
Invista em suplementação
Investir em suplementação é excelente estratégia para maximizar a saúde e o desempenho do rebanho, especialmente durante períodos de adversidade climática, como as estações secas, quando a qualidade e a quantidade de forragens naturais são reduzidas significativamente. Uma vez que os períodos críticos podem comprometer o estado nutricional dos bovinos, seguem algumas justificativas para destacar a importância da suplementação:
- Prevenção da perda de peso e do atraso ao abate: durante a seca, a pastagem natural perde valor em termos de proteínas e energia. Sem suplementação, os bovinos podem sofrer perda de peso relevante, levando a atrasos no cronograma de abate e à redução da eficiência econômica.
- Manutenção da saúde e vitalidade: a suplementação com nutrientes essenciais contribui para que os animais mantenham-se saudáveis mesmo em períodos desafiadores, o que é fundamental para conservar a função imunológica e evitar doenças que poderiam ser exacerbadas por deficiências nutricionais.
- Acesso regular às fibras: a suplementação com alimentos volumosos, frescos ou conservados, proporciona a fibra necessária para a atividade fermentativa e as demais funções digestivas dos ruminantes, o que previne distúrbios gastrointestinais e contribui para a produtividade.
- Benefícios no confinamento: em períodos de seca, muitos produtores optam por confinar o gado, para garantir o acesso a dietas balanceadas e fechadas no cocho. Essa abordagem permite uma gestão nutricional mais precisa, maximizando a eficiência da alimentação e minimizando o impacto de condições externas adversas sobre o desempenho dos animais.
- Eficiência e lucratividade na produção: integrar a suplementação no manejo alimentar do gado de corte resulta em ganhos de peso mais eficientes, garantindo que os animais atinjam os padrões de mercado no prazo estabelecido. Isso se traduz diretamente em maior retorno financeiro.
Visto tudo isso, é fácil perceber por que a nutrição do gado é um dos grandes focos na cadeia produtiva. Após a execução do planejamento alimentar estratégico, é fundamental fazer o balanço da produção para, então, prosseguir ou ajustar as práticas adotadas.
A suplementação configura a oferta de nutrientes essenciais que contribuem para a eficiência alimentar e a produção de carne ou leite. Além disso, essa estratégia previne deficiências nutricionais que podem acarretar doenças reprodutivas, atrasos no crescimento, comprometimento da imunidade, entre outros desafios.
Para obter melhores resultados, é importante ajustar a suplementação aos requerimentos dos animais e à disponibilidade de alimentos. Uma abordagem personalizada garante o oferecimento do suporte nutricional que contribui para o bem-estar dos animais e o êxito do produtor.
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Este conteúdo foi elaborado com a colaboração de Amaury Valinote, Diretor de Negócios de Ruminantes da Vaccinar.
Preciso de manual com boas práticas de produção animal
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Encontramos o manual sobre Boas práticas agropecuárias: bovinos de corte: manual de orientações, publicado pela Embrapa para te auxiliar. Para acessar o conteúdo, clique no link abaixo:
https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/897243/boas-praticas-agropecuarias-bovinos-de-corte-manual-de-orientacoes
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ola bom dia tenho um lote de novilhas na media de 330 kg quero um produto de baixo consumo para elas nos proximo 70 dias no regime cocho e pasto tem algo me indicar. fico no aguardo muito obrigado
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No entanto, este documento tem uma fonte riquíssima com direcionamento adequado para produtores e criadores de animais, contextos muito bem explicativos, dando o expoler correto para diversos criadores de todas as regiões brasileiras. Muito bom, parabéns!!!
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